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Autismo nos bebés: como identificar os primeiros sinais?

Autismo nos Bebés

A saúde das crianças é uma verdadeira caixinha de surpresas. A chegada de um bebé é um momento de grande alegria mas também traz algumas preocupações e dúvidas. Uma delas é o autismo nos bebés, que preocupa e inquieta os recém-papás.

O autismo é um transtorno do desenvolvimento que afeta a comunicação, interação social e comportamental. Identificar os primeiros sinais de autismo nos bebés é fundamental para garantir uma intervenção precoce e adequada. 

Neste artigo, iremos falar do autismo nos bebés e como identificar os principais sinais de alerta.

O que é o autismo?

Segundo a definição da Harvard Medical School: “O autismo e o transtorno do espetro de autismo, são termos usados para um grupo de transtornos causados por problemas do desenvolvimento do cérebro nos primeiros anos de vida. Um indivíduo com autismo apresenta dificuldades em se comunicar e interagir socialmente”.

O autismo, também conhecido como Perturbação do Espectro do Autismo (PEA), é uma condição neurológica que afeta a forma como uma pessoa percebe e interage com o mundo ao seu redor. 

As pessoas com autismo podem apresentar diferenças significativas em diferentes áreas como: na comunicação, na interação social, no comportamento e no processamento sensorial. Essas diferenças podem variar desde leves até graves, e cada indivíduo com autismo tem uma combinação única de características e desafios.

O autismo é considerado um transtorno do neurodesenvolvimento, o que significa que os seus efeitos são observados no desenvolvimento inicial do cérebro. Embora as causas exatas do autismo ainda não sejam completamente compreendidas, acredita-se que os fatores genéticos, ambientais e neurológicos desempenhem um papel importante na sua ocorrência.

Outra característica dos indivíduos com autismo é a presença de padrões de comportamento repetitivos e interesses restritos. Isso pode se manifestar como a repetição de movimentos corporais, o facto de adotarem rotinas rígidas, a fixação em objetos específicos ou em assuntos específicos de interesse.

É importante ressaltar que cada pessoa com autismo é única e pode apresentar uma combinação diferente de características. Alguns indivíduos podem ter habilidades excecionais em áreas específicas, como memória ou habilidades matemáticas, enquanto outros podem enfrentar desafios significativos em várias áreas do funcionamento.

Embora o autismo seja uma condição vitalícia, com suporte e intervenção adequados, as pessoas com autismo podem desenvolver habilidades, alcançar um bom nível de funcionamento e desfrutar de uma vida significativa e produtiva.

Sinais Precoces de Autismo nos Bebés

Entender e reconhecer os primeiros sinais do autismo nos bebés é fundamental para garantir uma intervenção precoce e adequada, permitindo o acesso a serviços especializados e a oportunidade de maximizar o desenvolvimento e o potencial da criança.

1. Atraso no Desenvolvimento da Linguagem

Uma das primeiras áreas em que os pais podem notar sinais de alerta é o desenvolvimento da linguagem. Bebés com autismo podem apresentar atrasos significativos na fala ou podem não falar de forma alguma. 

Os bebés normalmente começam a palrar por volta dos 6 meses e a dizer palavras simples como mamã, papá, olá, por volta do seu primeiro ano de vida, bebés com autismo podem apresentar atrasos significativos nessa área.

 A partir dos 2 anos, é expetável que as crianças sejam capazes de formar frases simples. No entanto, no caso do bebé com autismo, é comum que tenham dificuldade em utilizar mais de 2 palavras para formar uma frase completa. Em vez disso, podem recorrer a apontar com o dedo para expressar os seus desejos ou repetir repetidamente as palavras que lhes são ditas.

No entanto, é importante destacar que nem todos os bebés com atrasos na fala são necessariamente autistas, mas a observação de um atraso na linguagem combinado com outros sinais de alerta pode indicar a possibilidade de autismo.

2. Dificuldade na Interação Social

Outro sinal de alerta importante para identificar o autismo nos bebés é a dificuldade na interação social, podem apresentar dificuldades em estabelecer e manter interações sociais típicas, o que pode ser observado desde os primeiros meses de vida.

Uma das características comuns é a falta de contacto visual. Normalmente, os bebés procuram e mantêm o contacto visual com os pais e cuidadores, estabelecendo uma conexão visual significativa. No entanto, os bebés com autismo podem evitar ou ter dificuldade em manter o contacto visual, parecendo desinteressados em interações sociais.

Além disso, podem não responder aos estímulos sociais da mesma forma que os outros bebés. Por exemplo, podem não sorrir em resposta a sorrisos ou podem parecer não procurar o contacto físico de forma espontânea. A falta de interesse em jogos de imitação, como esconder o rosto ou bater palmas, também pode ser um sinal de alerta.

É importante ressaltar que bebés com autismo podem ter dificuldades em reconhecer e interpretar as emoções e expressões faciais das pessoas ao seu redor. Eles podem ter dificuldade em compreender as pistas sociais e subtilezas da comunicação não verbal, como gestos ou tom de voz, o que pode dificultar a interação e a compreensão das intenções dos outros.

Essas dificuldades na interação social podem levar a um isolamento emocional, e preferirem brincar sozinhos.

No entanto, é importante destacar que nem todos os bebés com dificuldades na interação social têm autismo, mas a presença de outros sinais e sintomas deve ser levada em consideração para uma avaliação mais aprofundada.

3. Comportamentos Repetitivos e Restritos

Outro sinal de alerta comum de autismo nos bebés, são os comportamentos repetitivos e restritos. Esses comportamentos podem se manifestar de diferentes maneiras e são observados como padrões fixos e repetitivos de comportamento, interesse ou atividades.

Por exemplo, os bebés com autismo podem exibir um interesse intenso e restrito por determinados objetos, como ficar obcecados por um brinquedo específico e dedicar longos períodos de tempo a explorá-lo de maneira repetitiva. Eles podem demonstrar uma preferência por padrões ou sequências repetitivas, como alinhar brinquedos ou organizá-los de maneira específica.

Além disso, comportamentos motores repetitivos também são comuns em bebés com autismo, por exemplo, podem balançar o corpo, agitar as mãos, girar objetos ou fazer movimentos repetitivos com os dedos. Essas ações repetitivas geralmente são realizadas sem um propósito funcional óbvio e podem ser acionadas por stresse, excitação ou desconforto sensorial.

A rigidez nas rotinas e a resistência a mudanças também são características comuns. Bebés com autismo podem preferir manter uma rotina consistente e podem se sentir ansiosos ou desconfortáveis com mudanças no ambiente ou na sequência das atividades diárias. A interrupção dessas rotinas pode causar angústia e levar a comportamentos desafiadores.

Esses comportamentos repetitivos e restritos são uma maneira pela qual as crianças com autismo podem lidar com a ansiedade e o stresse do mundo ao seu redor. Esses comportamentos podem oferecer uma sensação de controle e previsibilidade num ambiente que pode ser avassalador para eles.

É importante observar que nem todos os bebés com comportamentos repetitivos e restritos têm autismo. No entanto, quando esses comportamentos estão presentes em conjunto com outros sinais de alerta, é recomendável procurar uma avaliação profissional para uma análise mais aprofundada.

4. Não responder quando é chamado

Um dos sinais de alerta de autismo nos bebés que os pais e cuidadores devem estar atentos é a falta de resposta quando este é chamado.

A capacidade de responder ao próprio nome e direcionar a sua atenção para quem o está chamar é uma habilidade social fundamental que se desenvolve durante o primeiro ano de vida. No entanto, os bebés com autismo podem apresentar dificuldades nessa área. Quando um pai ou mãe chama pelo nome, é comum que eles não demonstrem nenhuma resposta visível. Eles podem não olhar na direção da pessoa que os está a chamar, não emitir nenhum som em resposta e aparentar não reconhecer que estão a ser chamados.

O bebé com autismo pode ter dificuldade em compreender e interpretar os sinais sociais e a linguagem verbal de maneira típica, o que pode afetar a sua capacidade de responder ao chamado pelo nome.

É recomendável que os pais observem e registem esses padrões de falta de resposta ao chamado e compartilhem as suas preocupações com um profissional de saúde especializado, como um pediatra ou especialista em desenvolvimento infantil para despistar o autismo ou outras patologias.

5. Recusar contacto físico

A recusa de contacto físico é um comportamento comum observado nos bebés com espetro de autismo. Enquanto a maioria dos bebés procura e aprecia o contacto físico, como abraços, carícias, beijos e brincadeiras físicas, os bebés com autismo podem apresentar uma aversão ou falta de interesse, por esse tipo de contacto.

A recusa de contacto físico pode se manifestar de diferentes maneiras, como, por exemplo: afastando-se ou tentando esquivar-se quando alguém tenta abraçá-los ou tocá-los, podem também demonstrar desconforto ou ansiedade quando são abraçados.

Os bebés com autismo podem não procurar o contacto físico de forma espontânea, como, por exemplo, podem não se inclinar para serem pegos no colo, não se aproximarem para receber carícias ou não demonstrarem interesse em jogos físicos, como cócegas.

A partir de que idade são visíveis os sinais de autismo?

Os sinais de autismo nos bebés podem começar a ser observados nos primeiros meses de vida do bebé. No entanto, é importante ressaltar que o diagnóstico de autismo é geralmente feito após os 2 anos de idade, quando os sintomas se tornam mais evidentes e o desenvolvimento social e comunicativo é mais observável.

Os pais podem notar diferenças sutis no comportamento de seus bebés nos primeiros meses de vida. Essas diferenças podem incluir dificuldades na interação social, atrasos no desenvolvimento da linguagem, comportamentos repetitivos e restritos, bem como sensibilidades sensoriais incomuns.

É importante lembrar que cada criança é única e pode apresentar sinais de autismo em diferentes idades e em graus variados. No entanto, existem marcos de desenvolvimento que podem indicar a presença de sinais de autismo.

Durante os primeiros meses, os sinais precoces de autismo nos bebés podem incluir dificuldades em estabelecer contacto visual com os pais, falta de resposta ao próprio nome, ausência de sorrisos, falta de interesse em brincadeiras interativas e pouca ou nenhuma vocalização.

Conforme a criança cresce e se desenvolve, sinais adicionais podem se tornar mais evidentes. Por volta dos 6 a 12 meses, os bebés com autismo podem mostrar menos interesse em interações sociais, não imitar gestos ou expressões faciais, apresentar dificuldade em compartilhar a atenção com os outros e ter uma linguagem verbal atrasada ou ausente.

À medida que a criança se aproxima dos 2 anos de idade, os sinais de autismo podem se tornar mais óbvios. Além dos sintomas mencionados anteriormente, pode haver dificuldades na comunicação verbal e não verbal, como a falta de uso de gestos para mostrar objetos ou apontar, dificuldade em entender comandos simples e dificuldade em iniciar ou manter uma conversa.

Como é feito o diagnostico de autismo?

Se notar que o seu filho apresenta alguns dos sinais mensacionados, deve consultar o pediatra do bebé e expôr as suas preocupações para uma avaliação mais detalhada. 

O diagnóstico de autismo nos bebés é raramente efetuado antes dos 18 meses de idade, pois cada criança é única e tem o seu tempo para desenvolver.

Não existe nenhum exame específico para identificar o transtorno de autismo nos bebés, o processo de diagnóstico envolve a observação dos comportamentos e padrões de desenvolvimento da criança, além da recolha de informações detalhadas fornecidas pelos pais ou cuidadores. 

Geralmente, é realizado em consultas especializadas, como Consultas de Pediatria do Neurodesenvolvimento/Desenvolvimento, Pedopsiquiatria ou Neuropediatria, por médicos experientes nessa área. Para chegar a um diagnóstico preciso, é necessário integrar informações da história da criança e familiar, juntamente com observações clínicas e testes de desenvolvimento específicos.

Tratamento

O tratamento do autismo é individualizado e baseado nas necessidades específicas de cada pessoa no espectro do autismo. O objetivo principal é maximizar o potencial de desenvolvimento e melhorar a qualidade de vida, auxiliando no desenvolvimento de habilidades sociais, de comunicação e comportamentais.

Existem várias abordagens e intervenções terapêuticas que podem ser utilizadas no tratamento do autismo nos bebés. É importante ressaltar que cada abordagem terapêutica pode ter benefícios diferentes para cada criança, portanto, o plano de tratamento deve ser adaptado às necessidades individuais da criança ou do adulto com autismo.

Algumas das abordagens terapêuticas mais comummente utilizadas são:

  1. Intervenção Comportamental: A terapia comportamental, como a Análise do Comportamento Aplicada (ABA), é amplamente utilizada no tratamento do autismo. Essa abordagem foca a aprendizagem e o desenvolvimento de habilidades sociais, linguísticas e comportamentais, utilizando técnicas de reforço positivo e estratégias individualizadas.
  2. Terapia da Fala e Linguagem: A terapia da fala e linguagem é frequentemente recomendada para ajudar na melhoria da comunicação verbal e não verbal, incluindo habilidades de linguagem expressiva e recetiva, uso de gestos, compreensão e interação social.
  3. Terapia Ocupacional: A terapia ocupacional pode ajudar a desenvolver habilidades motoras, sensoriais e de auto cuidado. Ela pode incluir atividades de estimulação sensorial, trabalhar habilidades motoras finas e atividades de rotina para melhorar a independência e a funcionalidade no dia a dia.
  4. Intervenção Educacional: A educação especializada desempenha um papel fundamental no tratamento do autismo. Programas educacionais individualizados, adaptados às necessidades específicas da criança, podem incluir apoio em sala de aula, estratégias de ensino especializadas e intervenções para promover o desenvolvimento académico e social da criança com autismo.
  5. Intervenção Psicossocial: A terapia psicossocial pode ser benéfica para ajudar a lidar com questões emocionais, desenvolver habilidades sociais e melhorar a adaptação e a interação social. Isso pode incluir terapia cognitivo-comportamental, terapia de grupo ou aconselhamento familiar.
  6. Intervenção Medicamentosa: Em alguns casos, a medicação pode ser prescrita para tratar sintomas específicos associados ao autismo, como hiperatividade, ansiedade, agressividade ou problemas de sono.

É importante destacar que o tratamento do autismo é uma abordagem de longo prazo, que requer o envolvimento ativo dos pais, cuidadores e uma equipa multidisciplinar de profissionais de saúde. O acompanhamento regular, ajustes no tratamento e suporte contínuo são essenciais para promover o progresso e a melhoria contínua ao longo do tempo.

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lpereira

Licenciada em enfermagem desde 2009, com uma vasta experiência na área em vários países, como: Portugal, França e Suíça. Mãe de uma menina desde 2018, os desafios da maternidade e a minha paixão pela escrita motivou-me a partilhar os meus conhecimentos e experiências com outras mães e com futuras mamãs.